quinta-feira, 7 de maio de 2009

Derrame

Por entre barões bárbaros, furacões
De cálices erguidos na voz de fusões
Uma raiva picotada no ópio do segredo
Essa fonte incomensurada, essa raíz de medo

Sabe a pouco ouvir a escuridão lá fora,
Sabe a pouco esta voz que o povo ignora,
Essas palavras pintadas em melodias de mel,
Palavras cravadas dia a dia neste bordel

Sugando odores exteriores em estímulos de magia
Acordando horrores que se fixaram um dia
Entre portas e arados que desenharam o véu
Nessa tranca amargurada de que pintaram o céu

Trancados e apunhalados nesse quarto de heresias
Alimentados por cegueiras que mais parecem mentiras
Ninguém nos ensina porque não há nada para ensinar
Sobem no poder por o poder não saberem estruturar

E no meio de tanta palavra, os livros do pecado
Onde se grita direito por entre linhas do imaginado
Essa vontade que choca os mais sensíveis
Nessa raiva de monstros irascíveis

Somos filhos bastardos desse clamor social
Somos olhos incendiados desse furor descomunal
Choros sanguinários de espíritos abandonados
Revoluções astrais de limites desencontrados

Desenterramos vítimas, choramos história
Nessa chama de vento, nesse pico de glória
O ponto x do genocídio capitalista
O ponto x desse momento de fadista

E porque despista no meio da multidão
O sangue, a imagem, a coragem da união
Essa falta de activismo, de obstinação
Essa falha crucial do mundo novo da revolução

Guardamos o sofrimento na caixa da ventura
Esquecemos por momentos a nossa veia mais pura
Trazemos nos braços essa ira psicopata que esse véu abençoou
Esse mentor anónimo desse grupo para o qual nunca ninguém olhou

Enquanto me enveneno neste rancor
Leva o povo lápides do fruto do amor
Entre pulpitos e vontades, caminhos e desigualdades
Nesse brio que o mal ergueu, nessa revolta de oratória que o inferno ardeu

Receosos pelo mundo, receosos pelo ser
Nesse cheiro moribundo que nos fez falecer
As mentiras da paz, o estrondo da memória
Liberalismo que nada faz, democracia de que reza a história

Anarquias, fusões, direitas e onirismos
Rebelias, destruições, seitas e empirismos
As teias contínuas desses demónios corruptos
As veias indigenas desses seres abruptos

Imperialismos da vontade, terrorismos de fantasia
Fachadas da liberdade, sorrisos da ironia
Entre cálices de veneno erguidos pelos média
Que pintam impávidos as palavras dos mérdia

Igualando mentes pelo saber iluviso
Já que assim o dizem, nesse surrealismo depressivo
Quebrando labirintos, quebrando enigmas
Adormecendo instintos, matando estigmas

Deixemo-nos de parasatismos sociais
As odes do povo são os braços matinais
Neste inferno que alicia a dor
Nessa vontade da crise que tanto masturba o opressor

Nos orgasmos da pátria que prefere a imagem da frente
Nessa jornada pela tecnologia, nesse jogo eloquente
Flagelando carnes e sorrisos nessa voz de amor
Onde o mundo virou colmeia desse mel de terror

3 comentários:

Ana Duarte disse...

É preciso compreender.

Corvi Umbra disse...

E que se compreende?

L'ombre de la personne disse...

Eu não tenho nada a dizer, acho que está brutal, quer dizer não achos, está brutal!