terça-feira, 10 de novembro de 2009

Tempo

Pedi ao tempo que parasse por um segundo.
Um segundo apenas para mudar o mundo
E saudar o que não existe
E o que partiu e ainda por cá está.
Pedi ao tempo uma saudade.
Uma dança pela liberdade.
Pedi, pedi e ele sorriu.

Data:
Escrito algures lá atrás no tempo


Lugares ao sol

Ponho um pé unido ao outro
(como se saltinhos desse)
E envolvo-me na paz da Noite,
Canto-me sem quaisquer palavras
E balanço no silêncio eterno
Em que aquele mundinho insiste em ficar.

Adapto-me a um sonho,
Com o sol em meu redor,
Como se luz tivesse em ouro,
Como se tudo mais fosse furor.

E encanto-me nas escadas que não existem
E oiço as marés sempre gritar
Pedindo sonhos aos que resistem,
Pedindo vida além mar

E das horas que sei que ali vivi
Não perdi qualquer momento
A liberdade desde então jaz em mim
São palavras, um sentimento

E com os cobertores em mim envoltos
Adormeço na luz que eles são
Abençoada pelas palavras sem corpos
A partitura do coração

De diante uma gaivota
O toque do rei-luz em toda a verdade
Voa em mim em tons de corvo
Em lugares ao sol, uma saudade.


Data:
Escrito algures lá atrás no tempo...


Coisas pequeninas especiais

Pois é. É incrível como facilmente nos esquecemos de informações que nos são tão importantes. Arquivamos pequenos grandes assuntos no inconsciente e a razão acaba por despromover qualidades várias da soma mundial denegrindo também ela o que já havia sido destruído. Acaba por ser um jogo na saga do tudo poder fazer nessa avalanche de informação que nos acompanha diariamente.
Hoje, não obstante dos outros dias, abri a página do Google, esse grandioso centro informativo, e deparo-me com o seguinte logo:

Escusado será dizer que me comoveu. Fez-me lembrar momentos sentados no chão da sala a olhar muito atento para a televisão. Momentos em que tinha de fazer tratamentos específicos para a visão e a minha mãe fazia de tudo para conseguir um cruzamento entre o estudo, a animação e os devidos exercícios para a vista. Eu de pala no olho, com cadernos na mão, tv ligada e uma mãe ali, sempre pronta a escorrer gotas de suor, entre lágrimas e desespero, a fazer o impossível para que eu sentisse um pouco de tudo. E sentia. Sorria, arrepiava-me, aprendia, comentava, apontava, desenhava, escrevinhava, respondia... Era um conjunto de minutos em que me activava e me abstraía. Em que juntava o útil ao agradável. Em que aprendia a aprender a ser nessa circulação imensa de sangue, bactérias, hormonas, compilações de substâncias negras e brancas, brincadeiras entre bens e males. Era crescer.

A Rua Sésamo iniciou-se em 1969, há 40 anos exactos, nos Estados Unidos da América com Jim Henson após todo o seu trabalho com outro grandioso espectáculo: Os Muppets - quase uma espécie de ante-visão do que viria a ser a rua encantada dos meninos pequeninos e dos meninos que não gostam ou não querem ser grandes.

Apresentada em cerca de 120 países, a Rua Sésamo chegou, adaptada ao condomínio português, vinte anos depois do seu nascimento (1989), fazendo também hoje no nosso país os seus 20 anos de existência.

Entre fantochada, animação, acção, activação, fantasia, exploração, educação, magia, arte, consciência, racionalização e, acima de tudo, prazer, rapidamente se tornou uma saga nacional entre crianças e adultos tanto para cobrir os interesses e desejos dos pequenos como as necessidades e apreciações dos adultos. Quatro temporadas vividas durante cerca de 4 anos a tapar lacunas escolares (consta pouco mais de 30% de sucesso na altura - disfarçado no agora mas enfim).

A bem dizer, talvez tenhamos perdido a vida com a perda da vida de uma pequena localidade fantasiada nos pontos bons e maus que a comprometiam. Hoje o que temos é restos de imaginação e tentativas de exploração de arte. Novelas, desenhos animados e publicações cada um deles pior que o outro. Não temos a mesma aspiração. Em parte, evolução, em parte, suicídio.

Choro por dentro ao recordar. Vivo por dentro o que vivi. Cresço por dentro com cada gota do que já havia crescido. E agradeço. Sempre. Cada uma das palavras e cada uma das cores do arco-íris que me facultaram na altura.

Palavras para quê? Who cares...

... Maná maná!