terça-feira, 29 de abril de 2008

Dizem do outro aspectos que se perdem em si mesmos. Surgem e resurgem como se de uma apatia momentânia se tratasse. No fundo, o mal está no sentimento e na emoção. Somos bolas de fogo que queimam cada poro e provocam cada agonia. Saímos de nós mesmos por momentos e quando retornamos ao cais, a água desentope o momento e o silêncio fere a vida... Sabemos da história, somos narradores, autores e personagens do acto. Julgamo-nos eternos, julgamo-nos no topo hierárquico do poder do que não se aprende e quando acordamos, a alvorada sabe a ópio e crucifica-nos a sanidade. Esquece-nos. Aquece-nos. Faz-nos perder.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Gotas de Inferno

Palavras puxam palavras,
Tempos, outras tantas marés
São de ouro e ousadas
Um jogo cavernal de rés em rés

Talvez entre novidades do tempo
Esboço do que está - fica por dizer
Sabor amargo, descontentamento
Um fruto de morte ao amanhecer

Saboreando o vento que me alicia a dor
Ao longe, nesse púlpito do rés do chão d'agonia,
Sabendo caminhos, derradeiro furor
Uma voz de luto entoando uma tal melodia

Sei-me reflexo de mim mesmo
Um esboço da fatiga e da maldição
Sei-me dois, três, quatro, um esmo
Sei-me eu e mim sem coração

Entre tanto saber, muito é vácuo no conhecimento
Ópio de cores sagradas, essas tais, tenro momento
Cada momento, hora história,
Cada história, viso estranho

E sou eu que não me engano
Talvez até por não ser sequer
Entre luto e voz de engenho
Nessa vossa aparência de livre temer

Sou rochedo, sou alma vaga
Sou dois em um ou algo mais
Sou talvez uma amostra, neutralidade paga
Sou um berro esquecido, um misto d'ais

E ao vento sei que o reflexo acaba
Letal veneno de ser quem sou
Nessa alma que me chega, que me afaga
Nesse gesto eufórico do nihil a que me dou

Sou, sou, sou... E de ser, a alma crava
Crava por sentir que é
Talvez a luz seja a palavra
Certamente a resposta a que não se vê

Mudei de cor, mudei de alma
Sou dois em um ou algo mais
Sou talvez raiva que não se espalma
Sou a divina comédia, a ode d'ais

Sou reflexo do que o tempo oferece
Uma cobaia nas mãos do mal
Um inferno que humedece
Nessa fraga de vento, uma lápide surreal

Cálices erguidos, silêncio matinal

Qual verdura errada que não acarta paz, consciência ou sabedoria, vergonha de ser quem sou quando quem sou é a maior certeza que me resta? Qual falácia comportamental e torpe que me transmite a verdura ignóbil de algo que sou porque é isso que me caracteriza na parte que a isso, em mim, se associa? Qual cruzeiro de poder, enaltecer o valor de outros que vivem nús e cheio de poeiras, cuspindo nos cálices da humanidade só por pertencer a essa maioria?

Que se desenhem, pintem, esculpem quadros e raízes frívolas, de ausência, nesses estratos de classes e hierarquias de tudo e nada, são questões forasteiras que me importam lá fora mas que se dissolvem ainda antes de me perfurar a mim, mas que me ditem medos e agonias tirando-me o que de melhor tenho de eu para mundo, no que o mundo melhor tem de si para mim, bastará um peito erguido de coração quente e protegido pela certeza de que quem sou ser verdadeiro e que mesmo na morte valerá mais tão somente por essa razão!

Se o grito? Por vezes é-me calado. Se me dói? É dor das facadas do deliberado. Se me condeno? Não!

Imperfeções todos a temos, abismos, só quem os alimenta e desses, sim, tenho vergonha. Vergonha por pisarem o chão que piso e por tudo o mais desmoronar por sua única e tão transparente estupidez!

Nihil Novi Svb Sole

Pois é, como diz o título deste post, diria que nihil novi svb sole (nada de novo de baixo do sol). Porém, tanto tempo sem escrever neste canto de obscuridade submersa e enganadora faz a tinta secar nesse escorrimento das paredes de prata pintadas a bordeaux - verdade, quão bela consegue ser a magia do preto...

Estes dias, meses até, já passados pouco ou nada trazem para dizer, pouco ou nada trazem para contar. A novidade não existe e o que acontece desfalece de pecar nessa negação que absorve tudo e antagoniza o mesmo que se profere. Porém, talvez até por piedade a um sítio que é meu por o ter criado e por respeito à sua existência nesse egoísmo cruzado por fazer parte de mim, aqui estou, escrevendo novamente coisas que não acrescentam nada, que de nada conseguem dizer sequer tudo.

Estes dias acartam a história de estudante, parte da experiência de quem tem 20 anos e se dedica à área social da cultura-padrão, da descoberta do já descoberto, da crença de que se sabe efectivamente tudo quando, na verdade, se é, acima de tudo, bem pequenino. Porém, é a incerteza da certeza que se tem que nos guia, por isso só acreditando nela é que um dia a poderemos refutar. Assim, orgulho-me do que faço.

Estava em arqueologia e confesso não me arrepender do ano passado mas a verdade é que não me imaginava a exercer tal área. Assim, depois de imensos anos a ponderar se seguiria ou não o que tanto me atraía, decidi-me por psicologia, matéria que estudo actualmente. No meio de biologia, filosofia, história e matemática, chego todos os dias com um novo saco fantástico de assuntos a estudar sobre as várias sub-áreas desta disciplina. Decidido a estudar as especialidades da criminologia, sexologia e, claro, clínica, inicio este ano, finalmente, o meu longo percurso psicológico (quiçá até, auto-avaliando-me - obviamente, nos limites que isso exige - consequentemente, incrementando toda a minha realidade).

Do que se falou, até agora guardo o senso crítico que me pareceu predominar nas aulas de antropologia e o senso de investigação que me pareceu culminar sobretudo nas aulas de biologia. Novidade na sua maioria mas extremamente cativante. Sem nada a apontar a estatística, a psicologia geral ou a processos psicológicos, estas duas, de facto, são as que mais me atraiem e aquelas que sinto ser das garantidamente importantes para todo o meu desenvolvimento escolar e pessoal neste primeiro semestre. A ver o que surge de agora adiante. São fases.

Crepúsculos

Penso em ti, ser inocente que não me é nada... Penso em ti e indago sobre essa cor e essa vontade desalmada de te querer. Falas-me de prisão e de má res quando o preso sou eu e tu me deturpas por existires. Fazes-me desejar rasgar a pele e cobiçar venturas nas noites venenosas e nos palácios infieis. Fazes-me ser quem não sou e soltar o sangue que congelaram em vidros de mim! Fazes-me sair de ao pé de ti contigo no pensamento e olhas-me de peito erguido, nessas formas de mulher, entre cravos e terra, gritos e angústias, desprezos e desrespeito e fazes-me querer. Todo eu contigo sou pecado e rasgo-me por não me conhecer e tu, serpente entrelaçada, nesse teu gárgulo de rasto afastado, sofres-me pelo não proferido e dizes ao mundo que eu sou impossivel de perceber!

Pequenos momentos de memória e de euforia sentimental...

Caiu o piano na sala ao lado enquanto sorriam entre conversas. Alguém dizia que fazia falta, alguém chorava através do buraco na barriga do vizinho do lado. Parecia que se ouvia o chilrear dos pássaros mas eram os riscos na parede de um senhor que não se mexia, bloqueara. Parecia que alguém lá fora corria mas era o silêncio a despertar a miragem. Na ilusão jazia a utopia e os seus olhos eram pecado. Fechava-os e ela cobria as suas veias com a música do violoncelo da violação, no tilintar das chamas que corrompiam o seu quarto e assim ficava, sozinho ou consigo mesmo, horas e horas, porque era assim que ele via o amor...

Abertura das portas

Tinha em tempos outro endereço também aqui no blog mas resolvi alterar a sua morada. Aposentado agora neste canto, recupero o que já havia escrito e debruço-me, como melhor poder, no que for sucedendo comigo e com aqueles que comigo se associem – categoria na qual poderia com praticamente toda a certeza colocar 99.9% da população, seja ela humana, seja ela de outra espécie terrestre ou não.

Falar de começos é falar de uma linha que tende a parecer desenhada somente agora ou somente na altura em que realmente algo aparecera, mas o paradoxo, o limite que nos ultrapassa, vem no para lá do tempo que sequer se percepciona. Por isso, limito-me a abrir portas nunca antes fechadas, deixando a chave com o tempo e divagando no cá e no lá de cada instância, cada turbilhão.

Falando um pouco nas palavras iniciais deste canto, dado que falar do que nos espera é limitar ainda mais o seu limite, optei por colocar duas expressões que me parecem muito próximas ao que se irá sentir no que aqui poderão eventualmente encontrar. A primeira, Brevis esse laboro, obscurus fio, pertence a um discurso de Horácio e significa esforço-me por ser breve (e) fico obscuro. Ora, o sentido parece-me claro. Quando olhamos para algo na vida (incluindo certamente a morte) tentamos estar perto de respostas e definir certezas... mas o que é isso comparado com o infinito da sabedoria? Parece-me a mim que de cada vez que tentamos esboçar factos, nessa complexidade a que nos entregamos, acabamos sempre por nos perder em pensamentos e ilusões que julgamos ser sabedoria. Essa palavra é a eternidade e ser breve, mesmo no mais complexo de nós, por sermos tão pequeninos, é conceder-lhe o abismo, a obscuridade. Pode o sentido variar de mim para os outros e o autor ter gritado tais palavras com múltiplos sentidos na história, mas, neste canto, tal será o meu uivo e o meu motivo.

Passando para a segunda, ler-se-á: pertence ao fenómeno universal da natureza humana que o tétrico, o medonho e até o horrível brotem com irresistível beleza, frase de Schiller, um dramaturgo, poeta, filosofo e historiador alemão do século XVIII. Uma das coisas que mais me apraz dizer deste senhor, para além desta frase que encontrei na contracapa de um dos livros de uma colectânea de contos de Edgar Allan Poe, é que foi um dos principais motivos de inspiração de Beethoven numa das suas composições: A Nona Sinfonia. Tudo por causa do seu poema An Die Freude (Em português, Ode à Alegria).

O que mais me atrai nesta frase é precisamente a ligação que tem comigo. Sinceramente vejo no 'medonho', no 'tétrico' e no 'horrível' cálices de letal beleza. Letal não de ruim, mas de verdadeiro. De tão bom que nos faz alterar sentenças do que se diz ser o equilíbrio, quase que como a um prazer incontrolável nos entregássemos... Tende-se a dizer que o mal é mau, mas o mal ensina. Ensina de tal maneira que não se esquece com tanta facilidade e que se memoriza com sangue e com lágrimas porque fere mesmo sem armas físicas, porque alicia ilusões do que é bonito, porque deturpa mentes que se perdem e prova que a infelicidade não existe, que esse conceito tem tão somente instâncias surreais de beleza própria.

Talvez seja triste e infeliz o que aqui se partilhar mas as lágrimas que aqui escrever serão sorrisos de sangue quente e despido de vinho que não se esquece e embriaga a pele e o tempo. Será um canto recheado de tudo e de nada e talvez uma falácia no conhecimento. As eternidades da Vida...

Um bem haja a todos aqueles que eventualmente me leiam e um sorriso àqueles que me contradisserem!

Até breve!