sábado, 18 de abril de 2009

Quero mais momentos destes...

Passeatas pelas ruas de Lisboa...
Crianças a brincar às seis da manhã nas ruas de Lisboa.
Hoje, acordei de um pulo e quis logo vestir-me para ir brincar com a bicicleta como já há muito tempo não fazia.
Crianças a brincar às seis da manhã nas ruas de Lisboa.
Mal saí de casa, uma brasa de frio imenso queimou-me as mãos e fez as minhas pernas tilintar. Olhei para a minha menina e pensei "saudade desta sensação".
As crianças estavam ali a brincar com as corridas e a gritaria rouca da manhã, mas num entusiasmo fantástico que me deixou completamente deliciado. Inspirei-me na sua euforia e aqueci o coração e os pedais da bicicleta.
Aventurei-me por Lisboa e as crianças brincavam às seis da manhã nas suas ruas.
Era incrível! Todas elas pareciam ter acordado com a vitalidade que há muito não se fazia sentir em seus corações e, na saudade de a poder aproveitar, lançavam-se como vulcões pelas ruas, deixando-as quentes e deliciantes.
Eu ia-me movimentando pelas várias ruas. Olivais, Alvalade, Campo Grande, Telheiras.
Uma criança caiu. Estava a tentar imitar os grandes profissionais de Parkour. Um jovem aventureiro, será bom dizer. Tentou subir uma árvore e lá em cima tentou um salto e uma cambalhota. Quando aterrou, magoou-se. Será bom dizer também que eu o vi no salto e o pequenote conseguiu fazer tudo bem feito. O resultado final é que não foi famoso, mas certamente se orgulhará daquela lesão. Aventureiro era ele e vontade de conseguir também não faltava!
Continuei o meu percurso e dois meninos juntam-se a mim. Olham para mim enquanto pedalam ferozmente as suas bicicletas para me acompanhar e eu sorrio. Eles retribuem os sorrisos e esforçam-se ainda mais. Abrando e eles ultrapassam-me. Vão até ao topo daquela rua vazia e fria, onde só os pais estavam a ver.
Descida. Eu apanho balanço. Já sozinho, apanho balanço e subo depois o pico. Volto a descer, levanto-me e retento colocar os pés sobre o corpo da minha senhora. Não cheguei a tirar as mãos do volante (ainda é cedo, ainda é cedo!). Mas pus-me em pé!
Volto ao banco, aceno aos miúdos e vou-me embora. Na saída pensei que talvez eles quisessem imitar-me. Arrependi-me e voltei atrás. Passei por eles mais uma vez. Eu sabia que eles vinham ter comigo! Demos duas voltas e antes de me ir embora "Não façam travessuras. Ainda é cedo para tentarem pôr-se em cima da bicicleta. Treinem o equilíbrio em casa e um dia eu ensino-vos!". Qual não foi o meu espanto quando um dos pequenos muito espontaneamente esboça a interrogação de desespero, da união entre dor e alegria, dúvida e vontade: "prometes?". Sorri e disse "Prometo". Pisquei o olho e estiquei a mão aos dois para que ma apertassem. Pegaram nas suas bicicletas e foram. Eu ando um bocado, olho para trás e, claro, se esperava, estavam os dois, todos contentes a tentar o equilíbrio. Já com as bicicletas encostadas ao muro, junto aos pais, treinavam o equilíbrio e iam caindo para aprender. Sorriam e aqueciam também aquelas ruas (e aqueceram-me a mim) - Agora, às sete e picos da manhã.
De volta à estrada. Saio de Telheiras, caminho por Campo Grande, Entrecampos, visita a Campo Pequeno, Saldanha, El Corte Ingles. Ruas frias e vazias... Nem uma criança. Nem uma pessoa. Só carros, carros e carros! (ali só há pessoas para ir às compras. Não aquecem nada. Nem o próprio centro comercial... Ele é que aquece aqueles corações vazios. Não todos, alguns. A maioria...).
Arrepiado, pirei-me dali. Volto ao Campo Pequeno e passo pela faculdade. Incrível como já tenho saudades inclusive de escrever durante duas horas inteirinhas os ditos do Banha - grande homem! (palavra que não é graxa!) - e as divagações quilométricas do Caramelo!
Lá fui para Entrecampos novamente. A estação já estava mais agitada também. Pessoas a ir para os trabalhos. Crianças a deixar de aquecer as ruas para passar a aquecer as escolas. Ambulâncias mais vivas. Polícias parados a observar o nada e muito provavelmente a pensar no tempo da Maria Cachucha e dos feitos do Forrobodó... Os taxistas dentro dos seus taxis com frio. Alguns aventureiros a reclamar sobre a vida e sobre a falta de clientela para levar pelas ruas de Lisboa... "Continuo a preferir a minha Mikelina, confesso", penso.
Lá volto eu às ruas do Campo Grande e de Alvalade. Recordo os tempos que ali passei, como recordo sempre que lá vou, seja dia sim, dia não ou dia sim, dia sim. Volto pelo relógio e lá vou eu para os Olivais. Ainda antes de entrar na rua de casa, vou pela rua abaixo para subir o Vale do Silêncio. Não havia grande movimento.
Já no Vale, corriam, pulavam, aqueciam e dormiam. Muitas pessoas. Gosto sempre de passar por lá porque há um senhor dorminhoco que gosta de me ver andar de bicicleta. Como não tem tempo, conta o meu e sorri quando faço records. Fiz duas, três subidas e como estava cansado, despedi-me do senhor. Atirei-lhe uma moeda enquanto lhe piscava o olho e o sorriso esboçado fez-me subir com a força de quem acabou de acordar rejuvenescido o que faltava.
Já na minha rua, nem sinal de crianças, nem sinal de adultos, nem sinal de nada. Completamente vazio. Que frio, que frio!
Fui à padaria buscar o pão das nove, voltei para casa, tomei um duche, comi uma maravilha quentinha e fui dormir.
[O tempo está pintado de cinzento, mas a vida não perdoa o sorriso de voltar...]
Vivido em:
29.12.06
»»Uma boa pérola de fim de ano! Talvez, a melhor... Talvez...««

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