domingo, 5 de abril de 2009

Escrito algures no tempo...

Olho para trás e neste momento tenho umas dez criaturas deitadas a meu lado. Não faço ideia quem seja quem e de onde é que isto tudo apareceu mas sei que as tenho cá. Longe, lembro-me de sair e me embrenhar numa cor escura de Noite, numa sombra sua, entre mulheres. Não sei onde fui parar, não sei o que fiz mas lembro-me de cada pormenor das cores do que me deu. Sei o que senti. Sei-me parado lá atrás. Sei-me fugido.
Elas ficaram e fui ao encontro de alguém que me pareceu familiar. Um velho amigo, acho. Comprimentou-me com um sorriso que ficou mas o rosto... nada. Continuei por mais um pouco em conversa. O que dissemos, não sei, mas falámos e rimos e... soube bem.
Voltei atrás porque sabia-me a exagerar. Sabia que não fazia falta mas sabia-me a exagerar. Elas esperavam. Quando cheguei, dobro ou duas vezes tal era o número final da soma dos acáros ali metidos. Não conhecia ninguém. Não gostava de ninguém. Deixei-me no meu canto e alguém me raptou. Disto, só me lembro de abraçar uma cara conhecida e fugir para a rua mais escondida de todo aquele mato. Demasiada criatura em cada ponta mas o centro... a gravidade era nossa.
Lembro-me do que falámos e lembro-me de aquecer com todo aquele sorriso. Fez-me recordar muitos de que ainda sinto falta. Fez-me pensar que o tempo não pára e que a maior razão de amar é a de esquecer, aprendendo, cravando, morrendo, matando imagens, arquivando tudo no mais vácuo de nós.
A caixa escura desapareceu e voltei para dentro. Nesta altura, pela primeira vez, olhei para o palco. Outra cara conhecida. Uma troca de palavras e ele a dançar. Fugi. Senti-me cada vez mais longe. Não sei. Fugi...
Minutos depois, duas senhoritas no palco. Dança, sedução, berros, nojo. Duas mulheres com charme que aquece e que hipnotiza e um público imenso que em segundos consegue quebrar todo o ritmo desse jogo, dessa tentação. Abanei a cabeça, encolhi os ombros e fugi. Porém, rapidamente me apanharam e puseram-se a dançar comigo. Vi-me envolvido provavelmente por seis pessoas cujas caras nem conseguia definir. Agarraram-me o corpo, agarram-me a roupa, tiraram-me o casaco. Senti respirações por todo o lado e abanões na diagonal. Por detrás, agarraram-me o core e senti-me estático, entrelaçado em corpos que não fazia ideia de quem eram. Agarrei em cada uma...sem olhar sequer... afastei-as e fugi.
Sentei-me à porta daquele sítio para o qual não me lembro sequer como se vai ou o que era e debrucei-me no átrio a pensar no que ainda me restava na memória. Uma das senhoras poderosas saiu. A do palco, a dos gritos. Tocou-me nas costas e perguntou-me, numa maré de palavras castelhanas, o que se passava e porque estava ali. Sorri-lhe e ela deu-me um beijo. Por segundos, revi a cara do meu pai, por segundos lembrei-me do quanto me enoja e no quanto me faz falta. Olhei-a nos olhos e ela sorriu. Deu-me a mão e acho que aí a minha noite morreu. Acordo agora nesta saca de berlindes de vidro e o meu partiu.

2 comentários:

David disse...

partiu partiu, tt q eu tou parvo

Corvi Umbra disse...

lol ok.