quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Versus

As pessoas são curiosas. Generalizam com uma facilidade de meter medo ao susto. Enerva-me, admito. Tanto que até me custa escrever sobre este assunto. Não encontro nem as palavras certas nem a forma prazerosa de o fazer. Fica aquém das espectativas. Em todo o caso, não resisto à necessidade de esboçar sensações decorrentes desses comportamentos. A verdade é que é um assunto complicado: afinal, quem é que sobrevive a relações à distância e - pior - a relações cujo elo de ligação e ate ponto de início foi a internet? Muita gente... Assustadoramente, cada vez mais. Porém, o que de facto é assustador é toda a carnalidade que se encontra nos passeios, todo o sexo banal que se prende nos labirintos próximos de monumentos nacionais ou mesmo toda aquela bebedeira que define laços sexuais, activando vontades e afinando hormonedos. Isso sim é que me intriga. Detesto ver pessoas a cair na mesma esparrela vezes sem conta só porque dependem de sentimentos superficiais e actos primários como o é o sexo. Essa porcaria que toda a gente consome como se se tratasse do melhor dos remédios e da maior das conquistas. Enerva-me!

Quando estamos longe somos mais frágeis. Quando é uma cegueira que nos une a quem nos prende, tornamo-nos extremamente vulneráveis mas o desejo dá-nos força para avançar e querer estar lá. É suficiente. Aos poucos, os passos que se dão tornam-se estradas infinitas e extremamente estreitas mas a força que nos ultrapassa, esse elo infinito da razão do sentir, deixa que não nos desequilibremos e que nos mantenhamos nessa infindável via da escuridão, tal e qual uma caminhada de olhos vendados, tal e qual um feito dos céus.

Pois bem, a net é sem dúvida uma teia. Uma teia que nos une em códigos binários e segredos humanos e peregrinos. Não sabemos nada para além do que nos deixam saber. O abstracto é tão mais infinito que faz-nos esquecer sequer de perguntar o porquê. Enfim. Clausurados, então, lá vamos nós até que um dia se começa a escrever um livro. Qual necessidade de identificação (porque, afinal, nada há de interessante num nome, tão só isso) base quando a linguística, a logistica e o lamiré do pensar e do saber se tornam chaves transparentes e automáticas. Dias passam e a concha abre. Ambas as conchas abrem. Abrem e unem-se. Abrem e fecham com os medos do que é atípico, do que não se vê. Uma religião. Uma pura religião.

Salta-se para o seio da sociedade, da visão, da realidade tal e qual a conhecemos (ou conheço). O imaginário deixa de ser infinito e torna-se um pecado porque nos limita o tempo e a forma e o espaço e o corpo e o ventre e a luz. Pouco depois, o primeiro olhar trocado. Conversas que se cruzam e se completam tal como no livro que se abriu. Os olhos que se tocam em silêncios e se aquecem entre linhas. O limite é ultrapassado. Não há forma, não há corpo. O próprio tempo continua mas não existe para esse pendulo que une quem se desiguala por fracções de ponteiros. Mais umas palavras. Mais uns rabisco. Um ou outro sorriso envergonhado (devido a medos e a desejos que não se entende sequer). E passados alguns passos, alguns caminhos, depressa se quebra o receio e se entende que nada mais houve se não o que o inferno nos quis oferecer. A tentação. Não se sabe onde nem como nem para quê. Está lá. Sozinha, ansiosa, rígida. Queima. Prende. A tentação. Evita-se. Tenta-se. E queima. Queima. Queima...

É um facto, existem n situações em que o busilis não existe. É o drama, a paranóia, o adamastor do psiquismo, essa necessidade, esse vício, esse fado de sangue que consome, fere, destrói, mata. Mas o espaço para se poder ser real existe em qualquer instância. E a minha transparência ensinou-me a olhar no abstracto. Nele não se vê, olha-se. Aquece-se o espírito com os mais básicos sentidos, completando com a achega da conexão, da coordenação e do controlo interior. Aquece-nos. Deliberadamente. Aquece-nos. Porém, não minto. Não me entrego. É por carnalidades tais de mundos animais como o é a selva em que crescemos enquanto seres humanos - ou uma merda qualquer - que me tornei, eu mesmo, psicopata. Sei que o furor é venenoso, letal. Em cinco passos quebro cinco dedos e em cada um uma série de tendões. Facilmente fico em segredo pela dor, pelo vazio, o desconexo. Facilmente perco cinco pontas do amor. Não nos dedos, não no tempo mas no real do que não se vê. Do automatismo de quem mente, de quem age, de quem procura. De quem caça. Derreto-me. Prefiro esquecer esse mundo e ser acusado de infantil. Tenho espaço para ser feliz no campo que construí, que, sem saber como, desenterrei. E tudo mais é o que quiserem. Nihil meu a mais nada exige.

2 comentários:

David disse...

Meu caro, ctn a ser quem és!

Corvi Umbra disse...

Ok -)