terça-feira, 19 de agosto de 2008

Pois é, as férias instalaram-se e as pessoas escolheram caminhos que de algum modo as afastavam da comum rotina. O trabalho, a vontade, as pessoas, a família até, o mundo. Uns caminham para outros mundos, trocam de trabalho, de vontades, de pessoas. Criam novas famílias, desenham novos mundos. Partem e quando retornam sentem tudo rejuvenescido como se na verdade essa troca fosse tão somente uma purificação, não deixando o seu covil, não alterando mundos. Outros... outros deixam tudo. Cospem cada pó da sua pele com o pudor do pensamento. Optam pela ferida que tem de sarar depois de um desabrigo da consciência. Deixam a sua rotina e deixam o mundo. Vivem por si. Sozinhos. Caminhando como se mais nada existisse. Uma foz de luz apenas de si para si para salvaguardar os seus horizontes e quando voltam nada muda porque é assim a solidão e o labirinto de quem quer ir mais alto - especialmente consigo próprio. São escolhas, são realidades.
Penso que neste tempo todo não me posso inserir nem num nem noutro. Não saio de Lisboa, saio muito esporadicamente. Uma criatura social, sem dúvida, mas bastante complicada na sua selecção. O meu mundo é o da retoma e da reconstrução. Sinto-me preso ao que não sou e ao que nunca fui e deixo o tribunal do pensamento decidir quem de facto prevalece e como. Deixo a vontade crescer e tomar conta de mim na ambição que tanto em mim admiro. A minha companhia é o culto. O mundo do saber. É a arte. A arte de poder estar sem estar com o inconsciente. O meu mundo passa pelo desporto até e é essa a fase mais ampla da minha sociabilidade e até mesmo do meu evento de verão. Judo, BTT, ginásio. O meu trio. Trio que parte para quadra quando faço o desporto do arranha poder. Uma guitarra, um amplificador, um deserto por perto e mais nada a não ser a naturalidade das palavras e das notas em rimas que desamam desarmando todo o afecto que na realidade sentem.
Olho lá para fora e o tempo despiu-se para as pessoas. Os pássaros cantam de quando em vez e as pessoas calam-se. As pingas não caem mas a humidade esfriece. As pessoas não vêm. Não sentem. Penso por segundos no carro que aparece e pouco depois repara-se numa buzinadela por um fulano que por ele passou e por pouco não lhe bateu, por pouco não o levava a frente por ir tão mais dado em furacão ou então por o deste carro não saber o que anda a fazer, perdido ou ignorante, nas estradas da saga de um país.
Por momentos esqueço os acidentes e relembro as paragens stop. O tempo que isso leva em testes ridículos quando pessoas à beira da morte por tarados inconscientes - ou bem conscientes até - que as perseguem, delas abusam e nada lhes deixam. Tiram-lhe o poder. Sai-lhes o dinheiro, os penduricalhos e as palavras. Sai-lhes as lágrimas. Sai-lhes o poder da dignidade.
Em seguida penso nos meus vizinhos. Vejo um a sair porta fora para ir buscar o pão da manhã. Sinto-me arrepiado com os palavrões que daquela boca saem e com os olhares que os outros lhe apresentam. Uma unidade disforme mas completamente risório. São gentes iguais e no entanto são gentes que se criticam pelo mesmo.
Entre a ida e a volta, o barulho é imenso e as brincadeiras uma tristeza. Um literal reflexo do submundo civilizado. É isto que se encontra em cada canto da actualidade. Para quê mentir? Não se avança porque a educação deixou de ser esperança... Dizia-se, em tempos, que a par da religião estava a educação. Pouco depois, esta tornara-se na segunda faixa da pirâmide do poder, logo a seguir à entidade de(sse famoso) Deus. Hoje, nem Deus nem cravinho. Céus cuspiram-se e pessoas derreteram.
Não preciso de ir mais longe, basta pensar na minha própria família. Derreto-me dentro dela. Sou diferente e sinto-me cuspido com as entranhas do coração. Amar não chega. Amar não é.
Prefiro os minutos em que me posso esquecer do mundo enquanto transpiro melodias rítmicas e gritos do coração. Prefiro esquecer o que me rodeia e por um par de horas dar-me tão somente atenção a mim mesmo. Prefiro esquecer o mundo, ignorar quem me olha, por vezes até desafiando em competição, e entregar-me às maquinetas de um ginásio em que cada gota de suor é uma lágrima e um sorriso. Prefiro a solidão quando chego a casa. A companhia única de uma guitarra ou de um papel. Escrever, contar, cantar, tocar. Desenhar-me em notas, esquecer que existe mais alguém. Não estar, não viver. Ser. Eternamente.

2 comentários:

David disse...

ta c kem tu quiseres ms n te esqueças q ha mais la fora.

Corvi Umbra disse...

I know. Thank you.