quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Desabafos soltos...

Os efeitos de uma miragem, os efeitos de um ponto de origem que não se define sequer. Os efeitos de uma dança entre palavras infinitas que se debruçam em sentimentos impossíveis. Verdades.
Parece triste ter de contar tão somente com a inconsciência, viver de manifestos automáticos como resultado de uma base intrínseca e de uma adaptação quase que imediata. É, de facto, triste. A aparência por vezes engana. Porém, é uma base que nos compreende entre furores fatais, nesse destino desmesurado que nos acompanha em vida. São coisas um tanto descabidas mas parte da evolução quando devidamente estudadas por cada um de nós, cientístas de nós mesmos. Pergunto-me frequentemente até onde nos leva a insanidade e até que ponto podemos acompanhar melodramas infinitos de surrealismo. Pergunto-me até que ponto não passamos de seres naturais a seres replectos de patologias neuróticas e abismais por decorrer tal efeito na nossa linhagem de pensamento. É tudo uma inconstante e uma incerteza mas a verdade é que há limites. Limites acompanhados por questões que inclusive nos ultrapassam mas que continuamos a esculpir como se delas fossemos controladores, nessa mania de seres ofegantes de razão, de seres replectos de sabedoria. É triste. É um facto. Assim como facto será que todo o nosso comportamento condiciona e é condicionado por aspectos vários que, parecendo que não, apenas partem de nós. Numa experiência prévia, independentemente da qualidade que se decompôs na sua realização, arquivamos informações mnésicas que nos encaminham para quando em situações idênticas à vivida possamos decidir mediante o que entretanto se aprendeu. O processo é tão somente nosso. Há quem lhe chame jogo de cintura, eu opto por independência ou maturidade.
É verdade que não podemos exigir a perfeição de cada indivíduo mas também é um facto que devemos acompanhar cada sujeito ao ponto que dela possa ser mais próximo e isso passa pela consciência do que é o mundo, pela noção básica que possa estimular o raciocínio e a inteligência (nessa escala variada e indefinida que a compreende) e, claro, pela própria noção de quem somos e de que modo podemos compor ou mesmo definir o que nos rodeia, incluindo, claro, cada entranha da nossa realidade individual. São as bases da evolução, creio. São estas que nos permitem a felicidade (um termo próximo da perfeição: existe, deve-se lutar por ela mas nunca se alcança a sua totalidade).
Pois bem, no nosso sistema existem n subsistemas que empreendem tanto estímulos naturais como estímulos químicos. Existe uma predisposição quase que inata para o processamento dessas informações de dada maneira. Existe toda uma saga de subcircuitos que trabalham consoante a combinação deste todo e existe evidentemente as barreiras criadas tanto por nós como pelos que nos rodeiam - o que, estando em plural da primeira pessoa implica necessariamente a participação una de um indivíduo em primeira pessoa do singular, novamente partindo de um eu único. Deste modo, torna-se um ciclo toda a acção. Temos os passos que antecedem a opinião/movimento do outro e temos os que sucedem esse mesmo ponto. Temos inclusive os passos independentes e até por vezes os de tal ordem automáticos que nem nos damos conta que sucederam. E é a assimilação de tudo isso, o controlo dessas variáveis e desses manifestos que nos faz ir até mais longe na sede da neurociência, na base da psicologia.
Repare-se quando olhamos para um ponto infinito e o processamos. Assimilamos esse ponto com metade do nosso lado consciente e com outra do nosso modelo inconsciente. Uma incógnita este último. Por mais que queiramos, não o conseguimos desenhar. Mas existe, actua, manisfesta-se... Está lá. E estando lá é um estímulo do nosso comportamento - estímulo esse resultado de toda uma série de estímulos que de algum modo são igualmente estimulados por ele mesmo. Neste caso, prendemo-nos então com a questão: como é então interpretado esse ponto infinito? Simples. Com todo o nosso sistema, que compreende toda a nossa teia arquivada até então, essa informação será laminada com a atenção de cada partícula como se de uma decomposição em átomos (ou, pior ainda, em quarks, léptons e bósons) se tratasse.
O nosso sistema tem a sua base neurótica (todos temos esta patologia se a encararmos como uma sucessão de anomalias comportamentais comparadas com o que cada um define com a perfeição) que por sua vez compreende uma série de vivências além-inatismo. Por outro lado, sofre de uma realidade momentânea. Por vezes o nosso sistema endócrino tem toda uma equação de sensações condicionadas por situações, deficiências e meros traumas (normalmente da ordem inconsciente e, como tal, automática) e isto faz-nos perder em nós mesmos quando processamos a informação interpretando um ponto preto como se de uma mancha de tratasse ou um ponto branco como se uma surrealidade estivesse ali definida. Por vezes, a mensagem de quem desenha algo torna-se subjectiva e incrivelmente estimulante. Podemos até ver a mensagem oposta mas por segundos o choque do momento é o mesmo que o do seu autor. Contudo, o que nos importa focar é que de facto a interpretação é uma subsequência do impacto que tal provocara em nós de acordo com tudo o que entretanto em nós se edificou, decisiva (parte de nós) ou temporariamente (resultado de determinado momento e emoção).
Em suma, até porque a extensão de tais palavras pode ferir resistências psicológicas, tudo o que digo é um tanto evidente e imediato na nossa percepção das coisas mas dentro da nossa fraqueza esquecemo-nos que tal sucede. Entregamo-nos a actos-manifesto e deterioramos assim as nossas experiências, bem como as dos que nos rodeiam. Facto é que esse ponto infinito não é a verdade que se analisa. O que de facto fica em processamento é a nossa vontade. Um momento de nós para nós que nos faz definir quem somos. Onde se torna um problema? Quando se tem noção de que o que baseia esse momento é a intensidade que nos fere e nos motiva qualquer outra realidade em nós, nessa fronteira aberta que temos com a vida. Unem-se as patologias comportamentais, seja de que ordem for, às necessidades socio-pessoais - em parte fruto dessas mesmas patologias - e descarrilam-se virtudes. As pessoas prendem-se com vícios e os vícios são exactos resultados do comportamento inadequado. Porém, anomalias reais e compreensivas nessa linhagem da deficiência doentia do que é o pensamento de nós para nós. Basicamente nós fazemos o que queremos do nosso corpo e nem damos atenção ao quão assassinos estamos a ser. O que se ingere lá fora quando se vive cada momento é a injecção para a nossa composição. Todavia quem a dá seremos sempre nós por sermos o sujeito activo, o sujeito que premite que o outro possa ser tão importante e sobretudo o sujeito com as portas abertas para que tal momento possa suceder em nós, tanto num ante como num pós assimilação.
Perguntam-se agora, provavelmente, o que me terá dado para deixar fluir esta maré de mensagens. Como diz o título, meros desabafos. Sempre me disseram que sou demasiado exigente com cada pessoa mas a verdade é que desde sempre compreendi que as pessoas não são tão somente pessoas. Não é essa imagem social que as define e tenciono desprender-me dessa realidade para poder ser melhor. Há evidentemente limites. Limites humanos e limites tão somente individuais. Todavia, esses limites não são mais do que fruto de um limite maior que será a desistência ou a falta de maturidade neural. A verdade é que continuo a tentar perceber até onde nos leva este caminho de inércia. Continuo a tentar perceber como podémos descer nós tão baixo. Continuo a tentar perceber como pode uma hormona, um simples fluido sanguíneo ou um mero nucleótido influenciar tanta coisa em nós. Continuo a tentar perceber como pode uma realidade humana ser tão imatura e o comportamento geral ser tão réplico e descabido. enfim... Comam-me vivo nesses lamirés de inconstância. Sujem-me a pele. Há alturas em que o melhor é não existir.

2 comentários:

David disse...

«aconchego-me nos teus desabafos»

Corvi Umbra disse...

Bonito... -P