sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Hoje, dia primeiro de um ano começado de fresco naquilo que é considerado o calendário ocidental, estou sentado no meu sofá, completamente despido de pessoas humanas, somente na companhia de três pequenotes peludos e umas quantas sombras que ainda se pintam nas paredes mesmo que na escuridão. Estou acompanhado de aparas do passado e muitos fios de pensamento nestes rolos químicos que se espalham por todo o meu corpo e não cessam de existir. Estou eu e mim em cada um dos pontos que me rodeia porque de mim nasce a luz da sua existência nesse paradigma de tão só o meu eu saber poder existir ainda que perante esse mesmo verbo eu me encontre entre enigmas do que tal possa querer dizer. Há quem se considere nihilista ou mesmo surrealista nos poros do que é ser e do que é ver o que se é, há quem provavelmente me venha dizer que toda esta melodia decorre fruto do álcool ingerido ou mesmo do que não se comeu. Há quem diga tudo mas eu não digo nada porque não sei como poder colocar cada uma dessas noções e hoje, uma vez mais, entre planos do que se vê e do que se é, nesse padrão insano do que é a humanidade, perco-me entre pensamentos nulos que me levam a lado nenhum. E se questionarem porque escrevo isto não sei sequer porque me apeteceu.

Há pouco cheguei a casa depois de uma sequência de horas de total loucura. Confesso que pouco ligo a épocas como esta e que inclusive opto por considerar o início do meu ano no dia actualmente chamado de Halloween por fazer muito mais sentido no que para mim é a humanidade e a Natureza. No que para mim é a sua deliberada união.

Estive acompanhado de duas moças toda a noite. Quis fugir de casa para evitar as ironias e as palavras e os apelos daquele que dizem ser meu pai. Quis fugir da dor do que é ter família sem a ter e do que é ver a solidão comprada daqueles que dela se queixam por nada saberem gerir. Acabei por ir parar a casa de uma amiga de infância, minha vizinha, que estava acompanhada por uma amiga sua que me pareceu, numa primeira impressão e num resultado final por conversas desenvolvidas, que estaria num estado parecido ao meu e, pior ainda, para colocar um trio perfeito, a referida amiga também. Conseguímos, porém, ter uma noite de mérito, ter momentos agradáveis, rir mesmo com tristezas e com lágrimas prestes a sair. Conseguímos dançar, cantar, jogar, partilhar, sonhar, viver. Conseguímos estar e aproveitar o que é poder fazê-lo. Entre bebidas e música e Monopólio e Castelo do Prazer - uma ode ridícula do que é as sexualidade nas mãos de quem tão deliberadamente a dita - e palavras e fogos-de-artifício e danças e vida... passou-se a noite. Passou-se a noite com o bónus de do prédio da moça se conseguir ver uma sequência incrível de fogos e inclusive termos sido surpreendidos com um outro - absolutamente fenomenal - mesmo diante dos nossos olhos na praceta que acompanha a sua casa. Os flashes entre as árvores, o furor mesmo diante dos nossos olhos, ao mesmo nível. Balsâmico.

Da noite guardo a bebedeira que há muito não apanhava e os sonhos que há muito não esquecia. Guardo um novo contacto e guardo uma nova felicidade. Pode não existir esse conceito na sua solução total mas é uma garantia do que nos garante a sobrevivência e, para mim, é o diferente e o novo que me injecta vida, que me injecta paz. E na paz que hoje me corrói o corpo, apenas dito e redito que agradeço a nova oportunidade, que agradeço o novo esquema que todo o período após dia 31 de Outubro me concedeu e que, pela primeira vez na vida, sinto que apesar do nada constante, há uma luz que faz sentido, há um caminho por percorrer, uma razão para ficar.

Obrigado 2009! Obrigado cosmos intemporal!

4 comentários:

Ana Duarte disse...

Eu, pela primeira vez na vida ou não, não gostei de um texto teu.

Porquê?

Corvi Umbra disse...

Porque não foi um texto meu. Porque não existe perfeição.
Porque acontece.
Porque é importante.
Porque gostamos um do outro.

Ana Duarte disse...

Hun.

Pode ser.

Corvi Umbra disse...

Ainda bem ^^