domingo, 7 de dezembro de 2008

Pequenos momentos de liberdade...

É curioso como a vida acarta uma sabedoria tal que chega a ultrapassar os limites do próprio tempo. Aos poucos, os passos experimentais vão ocorrendo e o armazem de cada um cresce e desenvolve, amadurecendo, ganhando forma dentro do derradeiro contexto natural. Passamos de meras tabulas rasas e tornamo-nos amostras de crespúsculos de pensamento, quadros de matéria astral. Juntamos moléculas e juntamos estímulos. Processamo-los e, de melhor ou pior forma, assimilamo-los no nosso inconsciente. E que mais é este que uma simples pérola de outros tantos desconhecimentos em que a letal essência não cessa de existir mas insiste em não se querer desvendar? Esconde-se em nós, apela por nós, usa-nos, abusa-nos e parte novamente para o esconderijo (outro) que tão gulosamente aprecia por nos sugar. Tudo, em pequenas fracções de tempo. Sub-fracções até. Tudo em cada um de nós, de n formas irregulares e diferentes, de tantas que, em cada, outro reflexo de n's continuar-se-á a desenvolver.
Porém, mantem-se a questão da evolução. Por tantos anos, os seres gerais entregaram-se à descoberta. Moldados pelo próprio tempo, influenciados pelo próprio espaço, motivados pelo próprio compincha (bem como - nesse espanto - o mais tremendo dos inimigos), foram-se encaminhando, dia após dia, década após década, século após século, em círculos de sucessos que sucedem sem cessar. Apenas se alteram formas e conteúdos extra. As bases mantêm-se, os limites perduram. O espaço e o tempo desregularizam, em meras instâncias, após cálculos a fio de fragas corrompidas, todas aquelas expressões conquistadas, todo o habitat nutrido, toda a selva já apagada. Tudo. Formulam-se novas fórmulas, esquecem-se as anteriores. É uma luta contra o próprio tempo, esse capataz deste cárcere de ironias.
Por outro lado, recordo constantemente aspectos do passado. Marcas que se tornam em cicatrizes. A pele completamente desfigurada entre linhas, entre poros. Completamente perfurada num secretismo capital. Recordo-o, vivo-o, sinto-o. Estou lá enquanto o tenho em mim. Até que, de repente, num inatismo de obstáculos impermeáveis a qualquer poder, o meu non-ego me cospe na cara e decide desfigurar o meu pensamento. Por momentos, fica a dúvida se será de fora, se será de dentro. Junto, o turbilhão de imagens e de pulsões entre os rítmos musicais que imediatamente explodem. Sonhos e suspiros de coisa nenhuma, parafraseamentos de todo o aqueduto de mentiras que se tornam a mais pura da verdade. Entre tais, a nossa fantasia. Entre tais, o nihil horrendus. Entre tais, o veneno da passagem desse leito de cor para o leito do abismo de imagem alguma. Essa transparência de momentos salpicados ao longo do nosso percurso, nessa curiosidade enfadonha, nesse desejo obscuro de mais querer conhecer.
E entre todos esses mesmos labirintos, recorre-se à união astral de fontes, em que o odor isecrável de cada corpo se une, se sente, desmentindo qualquer sensação. Automaticamente, estímulos não terrestres, não contemporâneos, não familiares, não sequer plausíveis de considerar até, estendem-se ao longo do nosso tendão de consciência e descortinam a melancolia dessa medonha pequenez de ser humano. E longe de fragas corrompidas - essas, sim, do cismático odor de sombras - apressam-se as palavras e aproximam-se os momentos que nos definem surrealmente o dia a dia. Entre cada, uma pitada de sal ou tão somente uma colher de sonho mesmo sendo a vida muito mais do que uma fantasia. Paraísos, há-los no Olimpo e no mais intenso fogo de gatos. Entre cada ponto de sódio, oxigénio, potássio e dióxidos paralelos, em figuras que nada têm se não o grito de esperança pela desunião de factores e de factos.
Naquele quadro lá ao fundo, por detrás da melodia que me canta e encanta o sentimento inesperado, saem os gritos do passado. As mortes, os nascimentos, o sexo, a palavra, a doutrina, o trabalho, o baralho, a boémia, a gula, o opium, o sangue. E para lá de tudo isso, a história de uma vida corrompida pela própria sociedade, pela própria astralidade, pelo próprio saber de coisa nenhuma que se pinta tão mais importante que tudo o resto. E lá longe, onde tal quadro suscita amor, salvação e destino, sabe o relógio contar o enredo e desvendar a criatura mais infiel do nosso próprio caminho. Sabe-nos unir entre sombras e limar o próprio labirinto que nos sugere. Quantas vezes não nos passa a vitória pelas mãos por actos completamente desproporcionais a tais feitos? Quantas vezes não se nos apela a sorte ainda antes de a termos requerido no nosso dia a dia? Quantas vezes não balançamos para esquecer quem somos e percorrer automaticamente, num padrão definido tão somente pelo nosso corpo, todo o nosso destino, todo o nosso furor de vontade de ser quem não se é?
E relembro também os momentos de união. Sim, essa que nos faz explodir entre dor de pena e dor de prazer. Relembro cada uma das danças que nos fazem aumentar o nosso fluído de equilíbrio, a nossa faísca na natureza e o nosso busílis do ser e do existir. Relembro as uniões que ocorrem na casualidade do momento por motivos alguns e todos eles ao mesmo tempo, recordo-as entre mim e entre o sol, com a lua ao pé a mirar na escuridão daqueles panos violetas que a cobrem incomensuravelmente. Relembro a universalização de pensamentos como se de telepatias se tratasse por gerações de gerações de gerações que o sentem, num número infinito de horas vagas, de silêncios por distâncias descomunais, e ainda assim o assimilam, generalizam e tudo mais. E, sim, recordo o destino como um fardo. Recordo o finito por promessas e inconsciências abismais pois tais quadros são desumanos quando os limites são de várias formas e de nenhuma voz salpicada, apostando apenas instâncias de algo ou coisa nenhuma a fim de o tornar real no pensamento que se perde nos demais.

4 comentários:

Anónimo disse...

Não percebi o final. Fizeste-me lembrar a teoria da universalização natural. É isso?

Corvi Umbra disse...

Podemo-la chamar assim sim. Basicamente, há quem defenda que existe como que uma uniformização de ideias e comportamentos após um período-base (suponhamos, 20 anos para o homem, 10 anos para os restantes animais) isto porque há uma partilha química universal entre as várias matérias que compreendem a mesma espécie e os estímulos que advêm da matéria que conceptualizamos como 'os outros' e como 'a natureza'. Resultado, és um complexo de factores em constante interacção que, na tua experiência, te adaptas e evoluis de modo a conseguir melhores resultados para ti e para os teus. Sendo a finalidade o optimismo do teu comportamento (benefício superior ao custo), se a garantires, universaliza-la precisamente por essa conexão que existe entre os que se te assemelham (no caso do ser humano chega-se a falar em cadeias de proximidade ao invés da família ou dos indivíduos da tua cultura, país ou área de residência ou educação).

Mais claro?

David disse...

cristalino xD e cm n sei mais ,calo-m

Corvi Umbra disse...

lol ok.