quinta-feira, 17 de setembro de 2009

chuva da mente

Mil e um eus entre nós e esse buraco sagrado. Mil e um profanos entre rascunhos e cores despidas. Mil e uma anedotas, mil e um suspiros. Uma partida, uma única partida e todo um mundo desabado...

Preso entre quatro paredes de um mundo ainda mais pequeno, entregue a ironias surreais, transparentes, numa microprodutividade exaustiva. Uma saliência de tortura amarga, entre labirintos fúnebres de nitrato de sódio, uma combinação de pó sob a forma de molécula - pequenas partículas que nos fazem voar mais alto - em ilusões satíricas, entre nós e esse alterego que nos persegue, numa coima pessoal de mentiras, numa combustão letal, paráfrase desse nosso odor. O fim.

O oxigénio eleva-nos numa combinação de prazer, ao pico orgásmico dessa droga adulterada, sepulcros lânguidos de cal viva em forma de pecado. Eleva-nos, sim, ao ponto de tocarmos o céu rasgado, perfurando camadas sucessivas de agonia, num conjunto complexo de pânico, medo, sufoco e heresia. Uma demão de euforia, outra de docilidade voluptuosa. Um fado garantido e aceite pelo eu que não se toca, que se não sente. Influxo a si inerente, automatiza-se, degenera-se, vincula-se no autómato, no inconsciente da razão. Priva-o de tudo, rasga-lhe a pele, apodera-se do seu odor, do seu código, da sua chama. Acelera-se num padrão oscilante entre os milhares e os milhões de quilómetros por hora. Até que tudo se torna branco. A calma humedece, vigora, idolatra-se. O déjà vu é a única prece que nos resta e o que dele se pinta, o ópio para o novo desassossego, numa cruzada que nos fará escalar as montanhas, as torres, o labirinto económico, o grito da paz. Far-nos-á ir ao topo através da única fórmula rasa que nos regenera: a esperança, essa mesquinha e fugaz inocência humana do desconhecimento, da impotência. Olhamos na perspectiva da luz e focamos o que para lá dela não se vê. Abrimos os braços, abrimos o peito, erguemos a tola e cuspimos o mundo. Esquecemos quem somos por um segundo e gritamos no sítio onde mais ninguém nos ouve. Quando é hora, acordamos. Olhamos o pequeno mundo nessas quatro paredes e quando nos vemos abandonados na super auto-estrada dos milhares no velocímetro, olhamos para baixo e vemos o nosso sangue onde mais ninguém o vê, arrefecido pela penumbra, arrefecido pela ignorância, esquecido pelos fadistas da corte da estratégia suburbana, num caos inerente à aversão primitiva, numa corte de jóias e de cólera que nos pinta de roxo numa máscara anarca, num jogo de cintura que nos colhe os véus.

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