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quinta-feira, 24 de setembro de 2009
E foi isto.
Quando a vida se abre e renasce o sonho adormecido, depressa somos invadidos por luz. Luz que nos consome os poros, nos descomprime as veias, nos discrimina a identidade. Aos poucos, soletram-se páginas a branco que nos pintam em ilusões que iludidas se espalham na nossa química neuronal. Somos pequenas pétolas de fruto e de tecido que chovem entre paredes. Pequenas informações sem qualquer gazua do ventre. Todas essas assimilações viscosas criadas por salivação prazerosa e inconsciente, uma espécie de fado pelo bem comum, numa vertente evolutiva do que é mais adequado. Porém, rapidamente começa a estimulação do Novo Ser. Fisicamente tudo igual, cognitivamente tudo no sítio. Uma espécie de beleza no cardume do povo. Um médico aproxima-se da sua vida e rapidamente afirma um Q.I. acima da média. Não importa o que o comprove, é importante, aparenta os registos comuns, portanto dita-o. Quais capacidades isoladas, um agregado informativo numa concha idolatrada por parâmetros cravados nos ossos de cada um. Sorrisos. Um orgulho imenso de quem o ouve. Um olhar de deleite em forma de ares vivos e corrupção. Uma mancha cinzenta que ninguém vê. Um coincidir imediato nos mesmos sensores do Novo Ser.
Os anos passam. O Ser cresce. A estimulação caminhara numa via constante. A idolatração, o ridículo. É acima dos outros. É melhor. Merece. Pode. Quer. Manda. Todos falam do ser já em fase alta do crescimento como o tal, como o eterno, como o eleito. E esse ser? Essa pérola...
Entre quatro paredes deitado, às escondidas do mundo, pinta a realidade de branco, por vezes de transparente quando quer saltar para o mundo vizinho tão igual ao seu, e pinta na sua mente as palavras que não sente e o ódio que tanto quer para si. Os arranhões, as marcas, o desprezo. Detesta a realidade. Todos o adoram. É simpático, bonito, inteligente. Activo, vivo, inerente. E no entanto esconde o mundo que não sente e mente para si na união.
Olha o mundo lá fora e isola-se no seu sangue. O comprimento da razão é o pequeno cavalo feito de papel que se encontra pendurado no tecto da cama, no andar de baixo do pensamento. Depressa corre para o ponto preto que desenhou em tempos no canto superior esquerdo da parede do fundo. A janela fica em frente e todos os dias corre por ela abaixo de um 28º andar de um fantástico prédio à beira-macula, rodeado de latas movidas a vigor, numa elevação constante dos corpos. Não se sente triste, não se sente feliz. Na cadeira do fundo, está o seu melhor amigo. Invisível, mudo, cego. Pensa que não anda mas como nunca lhe perguntou não sabe. Acredita que não e bem lá no fundo é nisso em que quer acreditar. A mão direita é feita de árvore e o olho esquerdo foi queimado num ensaio ao nascimento. O pé esquerdo é feito de plástico. às vezes mexe e faz uns barulhos curiosos que relembram o tic tac do vácuo. Não se sabe se é ele que o promove ou se é reflexo do seu circuito ou antes do circuito terrestre. Costuma acreditar que o seu umbigo é o centro do mundo. Talvez igual ao ponto desenhado pelo Novo Ser. Uma pequenina matéria rodeada por órbitas transparentes também elas rodeadas por camadas de cebola, agreste e saborosa, pintada de luz algures no céu. No chão, por debaixo do armário, tem escrito que a escuridão é uma fórmula de amizade. Lá do outro lado, nas quedas do 28º andar, tem escrito que o chão é o local mais bonito da globalização. Costuma pintar-se de algodão. Cor de chave de fendas. Às vezes com odor a grená. E atrás de si há sempre uma sombra que lhe diz que o ama. Há sempre alguém que lhe dá a mão.
Quando alguém entra no quarto, porém, tudo se esconde. Ele deixa de ser ele. O Novo Ser deixa de ser o Novo Ser. Quem o olha traz sempre o formoso sorriso. Quem o fala deixa sempre a sua lágrima cair. Olham-no ao espelho e embelezam-no no seu todo e ele chora de nojo. Por dentro decompõe-se. Derrete de sonho e sangra de fedor.
Escrevem-se pequenos poemas de morte e de dor. Do fim. Ele vive tudo isso enquanto vive e conhece tudo isso melhor que ninguém. Quando acorda em seco sabe que morreu mais uma vez e quando adormece e volta ao seu mundo sabe que chegou ao fim. Em três passos, corta a linha que o segura e quando olha para trás já é tarde para dizer que ama e que é feliz mas ao menos pôde mostrar tudo quanto podia, sobre cada passo, cada pedaço de mel que o agarrou ao glúten da sua vida.
Por fim, quando perde a cor de jovem e acarta em si o fardo de humano adulto, a sexualidade conta-se pelos dedos. Número zero na sua razão. Quer-se sozinho e sente-se enojado com cada pedaço de orgasmo que se ouve nas ruas por onde vai passando. O cheiro a droga atrai a sua veia e sente-se orgulhoso por o saber sexo e não o querer para si. No entanto conhece a Senhora Puta do 37º andar que desce todos dias as escadas do prédio amarelo, feito de bulor. Um bulor bonito pintado de amarelo. Uma senhora casada com um senhor também ele de mesmo apelido. Ambos não têm uma mão, não têm um pé e perderam um dos lados do genital que tinham. Não sabem porquê nem como mas sabem que gostam de sexo, idolatram o sexo, e que não o fazem, de todo e em tempo algum, por dinheiro. Despem-se todos dias e admiram os seus corpos com o mundo. A última vítima agradada terá sido a nuvem de azul. Às vezes vê-se da janela do 28º andar a adaptação da senhora nuvem. Parece uma vagina em forma de botija ou por vezes um pequeno lápis dobrado ao meio mas um pouco mais inchado. Quando o Novo Ser lhes disse que gostava muito deles eles perguntaram-lhe de imediato qual era a sua posição preferida. Quantas vezes tinha chegado ao pico da razão astral no odor transparente da transpiração do corpo. Ele sorriu e disse nunca. Eles não perceberam. Como poderiam perceber? Perguntaram se ainda assim já tinha experimentado. Acenou. Deixou-se violar há poucos meses por um intersexual pintado de encarnado. Era escuro o local. Parecia cheirar a aguardente mas na verdade era sujidade de cano roto. O intersexual perguntou-lhe na altura porque se havia deixado violar e ele sorriu. Não respondeu. Detestou o que sentiu. Detestou cada momento. Detestou cada partícula do seu corpo e cada frase dita pelo apaixonado. Pelo intersexual em deleite vago de satírica morta. Porém, dentro de si a máscara pintara-se de verde e desenhou um ponto no lado oposto ao já existente. O seu amigo perguntara-lhe porque o fizera e ele apenas disse que lhe apeteceu. A Senhora e o Senhor Puta não entenderam. Como podiam entender. Afinal, gostavam de sexo. Gostavam de dar o corpo ao mundo. Gostavam de estar sem estar mesmo gostando sem gostar. Como poderiam eles entender?
Os anos passaram e um dia matou o patrão. Quis devorar o sabor da morte. Toda a gente pensou que o patrão o havia atacado. Afinal detestava toda aquela perfeição. Invejava o Q.I. mesmo com capacidades superiores. Invejava a postura mesmo com uma melhor. Invejava o sorriso, o corpo. Invejava tudo mesmo sendo do mesmo sexo e assumidamente heterossexual. Invejava tudo e esse foi o seu crime. Pelo menos assim ficou registado. Todavia o Novo Ser ria baixinho. Apático no dia a dia, não gostou ou desgostou do acto. Aconteceu. Odiava-se a si, odiava o mundo mas não desejava mal a ninguém. Aconteceu. Olhou-se ao espalho e lembrou-se da morte. Lembrou-se da violação do patrão à empregada cega de 90 anos. Lembrou-se da escuridão por detrás dos olhos zarolhos do patrão. Lembrou-se da heterossexualidade. Lembrou-se do poder. Lembrou-se da mão do patrão a tocar-lhe no quarto. Lembrou-se das palavras do patrão nos ouvidos guardados do seu melhor amigo. Lembrou-se das mesas vazias à noite porque os empregados não podiam estar. Lembrou-se do sexo vazio mesmo que não gostasse dele. Lembrou-se dos filhos que não nasciam mesmo que isso pouco lhe importasse. Lembrou-se do mundo e aconteceu.
Mais tarde, o seu melhor amigo perguntou-lhe porque é que falava com os ratos e um dia resolveu mostrar ao amigo já sem partes do corpo e ele, o Novo Ser, com cabelos grisalhos e rugas por todo o lado, até mesmo no genital não apreciado e na unha gigante do pé de cima. Apresentou-lhe o sem nome. Disse-lhe que era um nome bonito. Admitiu que admirava o facto do senhor rato não ter nome nem bigode nem nariz nem cauda. Admirava-lhe o facto de já ter morrido 3 vezes. Admirava-lhe o facto de ser sujo e doente. Admirava-lhe o facto de ter família igual. E acima de tudo. Não. Ainda mais acima do que isso, admirava o facto de haver sido cobaia numa experiência laboratorial e ter sido abandonado na rua. Não lhe importava o resto. Admirava tudo isso. E todos os outros ratinhos de nome incerto e capacidade algures entre o infinito e o inexistente admiravam-no também. Alguns eram melhores que ele. Outros odiavam-no ferozmente. Outros já o haviam tentado matar. Outros até foram objectos sexuais nas mãos desse ratinho. E ele nas suas. Mas admiravam-no. Admiravam-no porque não existia. Estava lá mas era como se não estivesse. Era um milagre. E era esse milagre, todos eles, espalhado por todos os canos do universo e por todos os electrões da eternidade que o fazia falar com os ratos. Ir para o buraco mais escuro, fechar os olhos, viver o seu mundo e ao mesmo tempo, na sua mais real realidade, na sua mais eterna poesia, rebentar as veias do ódio ao adorar falar com os ratos.
Um dia foi condenado à cadeira eléctrica. Descobriram o seu paraíso. Pintaram-no de carvão. Despejaram água no topo do chapéu cinzento cheio de fios e pintaram-no de carvão. Pensaram que os pedaços de história que haviam conhecido eram feitos de poder. Eram feitos de insanidade. Eram feitas de aguarela divina. Perceberam que ele era o que sempre tinha sido e nesse perceber não o compreenderam. Juntaram-se ao antigo patrão falecido. Desta vez pessoas de todos os sexos, cores, tamanhos e mundos. Juntaram-se-lhe. Morreram com ele ao matar quem os matara. Acabaram a história em branco e despiram-se todos para morrer sozinhos. Os ratos ficaram. Segundo consta, também havia formigas e algumas baratas. Cada uma delas mais bonita que a outra, cada uma delas mais feroz. Cuspiram a carta algures e apagaram o mundo. O seu melhor amigo pela primeira vez chorou e pela primeira vez percebeu que não andava. Não via mas tudo era claro e a audição só precisava ser transparente. Os ruídos por detrás do silêncio eram a mais preciosa melodia e a extensão dos fluídos elásticos dentro do aperto sempre apertado traziam-lhe paz. Sabia que estava morto mas que nunca iria morrer e que estando só nunca iria estar. Derreteu e ficou pintado em cada pedaço da cebola onde a escuridão era sem dúvida uma fórmula de amizade e onde a memória não existia mas vigorava por desnascer.
Os anos passam. O Ser cresce. A estimulação caminhara numa via constante. A idolatração, o ridículo. É acima dos outros. É melhor. Merece. Pode. Quer. Manda. Todos falam do ser já em fase alta do crescimento como o tal, como o eterno, como o eleito. E esse ser? Essa pérola...
Entre quatro paredes deitado, às escondidas do mundo, pinta a realidade de branco, por vezes de transparente quando quer saltar para o mundo vizinho tão igual ao seu, e pinta na sua mente as palavras que não sente e o ódio que tanto quer para si. Os arranhões, as marcas, o desprezo. Detesta a realidade. Todos o adoram. É simpático, bonito, inteligente. Activo, vivo, inerente. E no entanto esconde o mundo que não sente e mente para si na união.
Olha o mundo lá fora e isola-se no seu sangue. O comprimento da razão é o pequeno cavalo feito de papel que se encontra pendurado no tecto da cama, no andar de baixo do pensamento. Depressa corre para o ponto preto que desenhou em tempos no canto superior esquerdo da parede do fundo. A janela fica em frente e todos os dias corre por ela abaixo de um 28º andar de um fantástico prédio à beira-macula, rodeado de latas movidas a vigor, numa elevação constante dos corpos. Não se sente triste, não se sente feliz. Na cadeira do fundo, está o seu melhor amigo. Invisível, mudo, cego. Pensa que não anda mas como nunca lhe perguntou não sabe. Acredita que não e bem lá no fundo é nisso em que quer acreditar. A mão direita é feita de árvore e o olho esquerdo foi queimado num ensaio ao nascimento. O pé esquerdo é feito de plástico. às vezes mexe e faz uns barulhos curiosos que relembram o tic tac do vácuo. Não se sabe se é ele que o promove ou se é reflexo do seu circuito ou antes do circuito terrestre. Costuma acreditar que o seu umbigo é o centro do mundo. Talvez igual ao ponto desenhado pelo Novo Ser. Uma pequenina matéria rodeada por órbitas transparentes também elas rodeadas por camadas de cebola, agreste e saborosa, pintada de luz algures no céu. No chão, por debaixo do armário, tem escrito que a escuridão é uma fórmula de amizade. Lá do outro lado, nas quedas do 28º andar, tem escrito que o chão é o local mais bonito da globalização. Costuma pintar-se de algodão. Cor de chave de fendas. Às vezes com odor a grená. E atrás de si há sempre uma sombra que lhe diz que o ama. Há sempre alguém que lhe dá a mão.
Quando alguém entra no quarto, porém, tudo se esconde. Ele deixa de ser ele. O Novo Ser deixa de ser o Novo Ser. Quem o olha traz sempre o formoso sorriso. Quem o fala deixa sempre a sua lágrima cair. Olham-no ao espelho e embelezam-no no seu todo e ele chora de nojo. Por dentro decompõe-se. Derrete de sonho e sangra de fedor.
Escrevem-se pequenos poemas de morte e de dor. Do fim. Ele vive tudo isso enquanto vive e conhece tudo isso melhor que ninguém. Quando acorda em seco sabe que morreu mais uma vez e quando adormece e volta ao seu mundo sabe que chegou ao fim. Em três passos, corta a linha que o segura e quando olha para trás já é tarde para dizer que ama e que é feliz mas ao menos pôde mostrar tudo quanto podia, sobre cada passo, cada pedaço de mel que o agarrou ao glúten da sua vida.
Por fim, quando perde a cor de jovem e acarta em si o fardo de humano adulto, a sexualidade conta-se pelos dedos. Número zero na sua razão. Quer-se sozinho e sente-se enojado com cada pedaço de orgasmo que se ouve nas ruas por onde vai passando. O cheiro a droga atrai a sua veia e sente-se orgulhoso por o saber sexo e não o querer para si. No entanto conhece a Senhora Puta do 37º andar que desce todos dias as escadas do prédio amarelo, feito de bulor. Um bulor bonito pintado de amarelo. Uma senhora casada com um senhor também ele de mesmo apelido. Ambos não têm uma mão, não têm um pé e perderam um dos lados do genital que tinham. Não sabem porquê nem como mas sabem que gostam de sexo, idolatram o sexo, e que não o fazem, de todo e em tempo algum, por dinheiro. Despem-se todos dias e admiram os seus corpos com o mundo. A última vítima agradada terá sido a nuvem de azul. Às vezes vê-se da janela do 28º andar a adaptação da senhora nuvem. Parece uma vagina em forma de botija ou por vezes um pequeno lápis dobrado ao meio mas um pouco mais inchado. Quando o Novo Ser lhes disse que gostava muito deles eles perguntaram-lhe de imediato qual era a sua posição preferida. Quantas vezes tinha chegado ao pico da razão astral no odor transparente da transpiração do corpo. Ele sorriu e disse nunca. Eles não perceberam. Como poderiam perceber? Perguntaram se ainda assim já tinha experimentado. Acenou. Deixou-se violar há poucos meses por um intersexual pintado de encarnado. Era escuro o local. Parecia cheirar a aguardente mas na verdade era sujidade de cano roto. O intersexual perguntou-lhe na altura porque se havia deixado violar e ele sorriu. Não respondeu. Detestou o que sentiu. Detestou cada momento. Detestou cada partícula do seu corpo e cada frase dita pelo apaixonado. Pelo intersexual em deleite vago de satírica morta. Porém, dentro de si a máscara pintara-se de verde e desenhou um ponto no lado oposto ao já existente. O seu amigo perguntara-lhe porque o fizera e ele apenas disse que lhe apeteceu. A Senhora e o Senhor Puta não entenderam. Como podiam entender. Afinal, gostavam de sexo. Gostavam de dar o corpo ao mundo. Gostavam de estar sem estar mesmo gostando sem gostar. Como poderiam eles entender?
Os anos passaram e um dia matou o patrão. Quis devorar o sabor da morte. Toda a gente pensou que o patrão o havia atacado. Afinal detestava toda aquela perfeição. Invejava o Q.I. mesmo com capacidades superiores. Invejava a postura mesmo com uma melhor. Invejava o sorriso, o corpo. Invejava tudo mesmo sendo do mesmo sexo e assumidamente heterossexual. Invejava tudo e esse foi o seu crime. Pelo menos assim ficou registado. Todavia o Novo Ser ria baixinho. Apático no dia a dia, não gostou ou desgostou do acto. Aconteceu. Odiava-se a si, odiava o mundo mas não desejava mal a ninguém. Aconteceu. Olhou-se ao espalho e lembrou-se da morte. Lembrou-se da violação do patrão à empregada cega de 90 anos. Lembrou-se da escuridão por detrás dos olhos zarolhos do patrão. Lembrou-se da heterossexualidade. Lembrou-se do poder. Lembrou-se da mão do patrão a tocar-lhe no quarto. Lembrou-se das palavras do patrão nos ouvidos guardados do seu melhor amigo. Lembrou-se das mesas vazias à noite porque os empregados não podiam estar. Lembrou-se do sexo vazio mesmo que não gostasse dele. Lembrou-se dos filhos que não nasciam mesmo que isso pouco lhe importasse. Lembrou-se do mundo e aconteceu.
Mais tarde, o seu melhor amigo perguntou-lhe porque é que falava com os ratos e um dia resolveu mostrar ao amigo já sem partes do corpo e ele, o Novo Ser, com cabelos grisalhos e rugas por todo o lado, até mesmo no genital não apreciado e na unha gigante do pé de cima. Apresentou-lhe o sem nome. Disse-lhe que era um nome bonito. Admitiu que admirava o facto do senhor rato não ter nome nem bigode nem nariz nem cauda. Admirava-lhe o facto de já ter morrido 3 vezes. Admirava-lhe o facto de ser sujo e doente. Admirava-lhe o facto de ter família igual. E acima de tudo. Não. Ainda mais acima do que isso, admirava o facto de haver sido cobaia numa experiência laboratorial e ter sido abandonado na rua. Não lhe importava o resto. Admirava tudo isso. E todos os outros ratinhos de nome incerto e capacidade algures entre o infinito e o inexistente admiravam-no também. Alguns eram melhores que ele. Outros odiavam-no ferozmente. Outros já o haviam tentado matar. Outros até foram objectos sexuais nas mãos desse ratinho. E ele nas suas. Mas admiravam-no. Admiravam-no porque não existia. Estava lá mas era como se não estivesse. Era um milagre. E era esse milagre, todos eles, espalhado por todos os canos do universo e por todos os electrões da eternidade que o fazia falar com os ratos. Ir para o buraco mais escuro, fechar os olhos, viver o seu mundo e ao mesmo tempo, na sua mais real realidade, na sua mais eterna poesia, rebentar as veias do ódio ao adorar falar com os ratos.
Um dia foi condenado à cadeira eléctrica. Descobriram o seu paraíso. Pintaram-no de carvão. Despejaram água no topo do chapéu cinzento cheio de fios e pintaram-no de carvão. Pensaram que os pedaços de história que haviam conhecido eram feitos de poder. Eram feitos de insanidade. Eram feitas de aguarela divina. Perceberam que ele era o que sempre tinha sido e nesse perceber não o compreenderam. Juntaram-se ao antigo patrão falecido. Desta vez pessoas de todos os sexos, cores, tamanhos e mundos. Juntaram-se-lhe. Morreram com ele ao matar quem os matara. Acabaram a história em branco e despiram-se todos para morrer sozinhos. Os ratos ficaram. Segundo consta, também havia formigas e algumas baratas. Cada uma delas mais bonita que a outra, cada uma delas mais feroz. Cuspiram a carta algures e apagaram o mundo. O seu melhor amigo pela primeira vez chorou e pela primeira vez percebeu que não andava. Não via mas tudo era claro e a audição só precisava ser transparente. Os ruídos por detrás do silêncio eram a mais preciosa melodia e a extensão dos fluídos elásticos dentro do aperto sempre apertado traziam-lhe paz. Sabia que estava morto mas que nunca iria morrer e que estando só nunca iria estar. Derreteu e ficou pintado em cada pedaço da cebola onde a escuridão era sem dúvida uma fórmula de amizade e onde a memória não existia mas vigorava por desnascer.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
chuva da mente
Mil e um eus entre nós e esse buraco sagrado. Mil e um profanos entre rascunhos e cores despidas. Mil e uma anedotas, mil e um suspiros. Uma partida, uma única partida e todo um mundo desabado...
Preso entre quatro paredes de um mundo ainda mais pequeno, entregue a ironias surreais, transparentes, numa microprodutividade exaustiva. Uma saliência de tortura amarga, entre labirintos fúnebres de nitrato de sódio, uma combinação de pó sob a forma de molécula - pequenas partículas que nos fazem voar mais alto - em ilusões satíricas, entre nós e esse alterego que nos persegue, numa coima pessoal de mentiras, numa combustão letal, paráfrase desse nosso odor. O fim.
O oxigénio eleva-nos numa combinação de prazer, ao pico orgásmico dessa droga adulterada, sepulcros lânguidos de cal viva em forma de pecado. Eleva-nos, sim, ao ponto de tocarmos o céu rasgado, perfurando camadas sucessivas de agonia, num conjunto complexo de pânico, medo, sufoco e heresia. Uma demão de euforia, outra de docilidade voluptuosa. Um fado garantido e aceite pelo eu que não se toca, que se não sente. Influxo a si inerente, automatiza-se, degenera-se, vincula-se no autómato, no inconsciente da razão. Priva-o de tudo, rasga-lhe a pele, apodera-se do seu odor, do seu código, da sua chama. Acelera-se num padrão oscilante entre os milhares e os milhões de quilómetros por hora. Até que tudo se torna branco. A calma humedece, vigora, idolatra-se. O déjà vu é a única prece que nos resta e o que dele se pinta, o ópio para o novo desassossego, numa cruzada que nos fará escalar as montanhas, as torres, o labirinto económico, o grito da paz. Far-nos-á ir ao topo através da única fórmula rasa que nos regenera: a esperança, essa mesquinha e fugaz inocência humana do desconhecimento, da impotência. Olhamos na perspectiva da luz e focamos o que para lá dela não se vê. Abrimos os braços, abrimos o peito, erguemos a tola e cuspimos o mundo. Esquecemos quem somos por um segundo e gritamos no sítio onde mais ninguém nos ouve. Quando é hora, acordamos. Olhamos o pequeno mundo nessas quatro paredes e quando nos vemos abandonados na super auto-estrada dos milhares no velocímetro, olhamos para baixo e vemos o nosso sangue onde mais ninguém o vê, arrefecido pela penumbra, arrefecido pela ignorância, esquecido pelos fadistas da corte da estratégia suburbana, num caos inerente à aversão primitiva, numa corte de jóias e de cólera que nos pinta de roxo numa máscara anarca, num jogo de cintura que nos colhe os véus.
Preso entre quatro paredes de um mundo ainda mais pequeno, entregue a ironias surreais, transparentes, numa microprodutividade exaustiva. Uma saliência de tortura amarga, entre labirintos fúnebres de nitrato de sódio, uma combinação de pó sob a forma de molécula - pequenas partículas que nos fazem voar mais alto - em ilusões satíricas, entre nós e esse alterego que nos persegue, numa coima pessoal de mentiras, numa combustão letal, paráfrase desse nosso odor. O fim.
O oxigénio eleva-nos numa combinação de prazer, ao pico orgásmico dessa droga adulterada, sepulcros lânguidos de cal viva em forma de pecado. Eleva-nos, sim, ao ponto de tocarmos o céu rasgado, perfurando camadas sucessivas de agonia, num conjunto complexo de pânico, medo, sufoco e heresia. Uma demão de euforia, outra de docilidade voluptuosa. Um fado garantido e aceite pelo eu que não se toca, que se não sente. Influxo a si inerente, automatiza-se, degenera-se, vincula-se no autómato, no inconsciente da razão. Priva-o de tudo, rasga-lhe a pele, apodera-se do seu odor, do seu código, da sua chama. Acelera-se num padrão oscilante entre os milhares e os milhões de quilómetros por hora. Até que tudo se torna branco. A calma humedece, vigora, idolatra-se. O déjà vu é a única prece que nos resta e o que dele se pinta, o ópio para o novo desassossego, numa cruzada que nos fará escalar as montanhas, as torres, o labirinto económico, o grito da paz. Far-nos-á ir ao topo através da única fórmula rasa que nos regenera: a esperança, essa mesquinha e fugaz inocência humana do desconhecimento, da impotência. Olhamos na perspectiva da luz e focamos o que para lá dela não se vê. Abrimos os braços, abrimos o peito, erguemos a tola e cuspimos o mundo. Esquecemos quem somos por um segundo e gritamos no sítio onde mais ninguém nos ouve. Quando é hora, acordamos. Olhamos o pequeno mundo nessas quatro paredes e quando nos vemos abandonados na super auto-estrada dos milhares no velocímetro, olhamos para baixo e vemos o nosso sangue onde mais ninguém o vê, arrefecido pela penumbra, arrefecido pela ignorância, esquecido pelos fadistas da corte da estratégia suburbana, num caos inerente à aversão primitiva, numa corte de jóias e de cólera que nos pinta de roxo numa máscara anarca, num jogo de cintura que nos colhe os véus.
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Morres-me nos corpos de lã que se soltam das vidraças da janela e pintas-te de azul nos espelhos do meu quarto. És sombra rasa e cor de mel, fingeste-me em olarias de pudor. Ultrapassas os limites do que não existe e entrelaças-te entre mim e eu. Flutuas na sombra, entre dedos e areais, de pernas para o ar, aos círculos contornados por linhas rectas. Entre cravos e mentiras, lapsos e silêncios, olhas-me e choras no olhar que deito a cada reflexo, suando eu os esforços das cavidades que derretem em ti. Entre lâminas e compassos, ao som de uma melodia primaveril, antecipando noites de sufoco, desidratação e morte. Lá, aqui, em ti, em mim. A união dessa ponte que nos separa, o fim de um caminho que ainda agora se concluíra para se prover.
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Sabe a pouco, dizia ele, sabe a pouco cada pedacinho de algodão esculpido das alturas do espaço, num vórtex salpicado sobre espirais de coisa nenhuma. Inocentes pontos de azia coloridos numa metamorfose intemporal e árida além tântricos cuspos de prata adoentados pela bengala da sabedoria. Chega-nos numa mensagem de lama, tolhida entre lá-mi-ré's à surdina, lesa entre fados e cortes, num torvão herético da noite, ao conspurcar a profanação do enredo sagrado. Uma miragem de ópio, uma concha de sangue, uma página do céu. Chega e instala-se e nunca mais nos deixa respirar. Segue a linha da vida e faz-nos rir. Rir pelas máscaras que criamos em nós, numa personificação vulgar de uma arte que é ser. Colocamo-las e entre sarcasmos depressa nos esquecemos de existir, de sentir o que nos grita o tempo independentemente da razão desses que sobem nas linhagens do saber e quando abrimos os olhos... não é tarde, mas o tempo entretanto ardeu demais. A razão desvanecera e a globalização sensorial torvara o campo sagrado do perfil do querer.
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