quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

De nihilo nihil

Nesses torcicolos tenebrosos,
Entre penumbras e obscuridades desleais,
Nessa iluminação de espécie,
Nessa afasia de desavindo,
Segue neste gentio
- esta bárbarie de oníricas sátiras -
Esse suor de pão e vinho,
Por entre montes, por entre chagas,
Por entre labirintos e santa fé.

Segue no crepúsculo,
Ao longe - lá bem ao fundo -,
Uma espécie de eternidade paga entre nós.
Um lamiré, uma surdina, uma alçada
- pérola livre -
Entre espasmos de esmos infinitos,
Essa ténue e nobre brisa,
Num caminho, fado, maré,
Onde o trilho é vizinho - friso -,
Onde o pó não se vê.

Cospem fontes, raízes entristecidas,
Esquecem vidas e tudo mais,
Pois que o tempo é tempestade derretida
E essas mentes a ode d'ais.
E sabeis, pois, ser teatro,
Neste inferno de bestas - lástimas -
De infortúnios, sim, da razão e muito mais,
Préstimos tais em sangue puro,
Por entre cânticos libados,
Sede de veneno, cura - luro.

E o silêncio cessa de existir,
Num vácuo pintado a vermelho;
Odor a ferro, odor a sangue;
Fragas, fragas, fragas;
Expedientes, bolçadas,
Entre dedos, entre chão.
E o pensamento nas eternidades vagas,
Um vórtice profundo de escuridão.