Por volta dos anos trinta, a liderança reconstrói a sua forma pela própria experiência por que se ia passando. Num período de crise, de choque cultural, político, carrancudo e solitário, mais não podia se não tornar-se alvo de estudos vários, todos eles ainda vagos - vagos e censurados - e, ainda assim, a escassez predomina. Formulação de diversas sugestões precárias até aparecer um novo método que avalia por relação de características de personalidade entre os líderes e respectiva semelhança, sendo isso que denotava a sua capacidade para o cargo e a notável diferença para com tudo o resto (Teoria de Traços da Personalidade). Porém, mais tarde, esta teoria foi refutada e recusada, sendo substituída, já no início dos anos 50, época em que cresce o cuidado pelo trabalhador e pelo trabalho, pela atenção a comportamentos do líder em relação ao grupo e respectiva eficácia. Em suma, ao passo que na teoria inicial a base assenta no líder já nascer nessa condição, nesta assume-se a educação, moldando capacidades, a fim de criar um líder e, por ele, um melhor grupo. Foi com esta base e com a questão 'qual o tipo de liderança aplicado por Adolf Hitler na Alemanha?' que o meu grupo na faculdade realizou, neste semestre, mais um relatório que dá que pensar. Em termos do que se pretendia, confesso ser relativamente evidente a conclusão e bastante acessível a realização desta tarefa. Porém, ao realizar este trabalho surgiram-me n questões, com as quais estava já familiarizado mas ainda assim incompleto e, por assim me permanecer, aqui fica mais um quadro qualquer. Registos, meros desabafos, monólogos talvez. E de que importa? São labirintos meus.
Como dizia a cima, foi por meados dos anos 30 que a liderança ganhou algum interesse e foi com as 2 décadas que se seguiram que se compôs uma nova forma de avaliação e de definição de padrões e conceitos do que esta poderia ser. Não será até demais acrescentar que tal não surge por acaso. Não só a ciência como a própria sede humana se encontravam num período de emancipação de luz mas, mais que isto, todo o poder executado nesse período que se passava, nessa crise mundial, foi raíz cultivada a branco num apelo universal. Numa explicação breve, liderança, sob efeito do próprio contexto social, não mais é que a capacidade (!) de influenciar um grupo na direcção do objectivo pretendido, controlando tarefas, união grupal, estabilidade, motivação e, claro, desempenho. Por outro lado, como aliás sugere Stogdill, trata-se de uma busca de segurança, uma troca da liberdade individual por um melhor amparo grupal, a base do que hoje definimos como sociedade. Deste modo, afundamos a palavra do líder. Deste líder. De qualquer unidade-líder. Líder é aquele com o dote (!) físico, psicológico e cognitivo que inspira determinado grupo a enfrentar determinada situação, podendo ser formal ou não, popular ou não, gostado ou não, instrumental ou expressivo, merecedor ou não, bom ou não. Efectivamente a capacidade de um líder passa por uma preparação prévia, um conjunto formativo desde as raízes do seu inato. Preparação tal que lhe é um dom, que lhe é a chave. Daí até todas as definições ancestrais, conscientes ou não, escritas ou não, do que este na verdade representava. Porém, o mundo avançou e entre perguntas e respostas, nessa euforia de ovelhas, nesse esplendor de estupidez, partiu-se para a subdivisão da liderança e evocou-se os padrões (as heresias teóricas...) desses fundamentos, surgindo a liderança
Laissez Faire, a Democrática e a Autoritária. Diferenças? Na primeira, o líder não mais é que um auxiliar, aquele a quem se recorre para obtenção de opinião ou avaliação do que o grupo, em plena liberdade, vai evocando e concluindo. Na segunda, faz parte do terreno dos liderados. É participativo sob a máscara/forma de um qualquer sujeito que pertença ao grupo. E na autoritária, fixa as directrizes e é dominador pessoal.
Ora, porquê Hitler? Adolfinho foi um ditador. Impôs, entre 33 e 45, o partido único, o 'hitlerismo' na Alemanha: o terceiro Reich. Porém, toda a sua história vem de trás e toda a sua verdade ainda hoje existe. Imortalizou-se nessa imposição e colidiu com o mundo por ser quem era, como era e como o fez. Culto e invadido pela sua própria anomalia psicótica, combina símbolos universais com histórias douradas, de vitórias e conquistas por espectros do seu próprio território a norte europeu, a fim de reforçar a ideia de unidade nos seus ideais. Enfim... Com o apoio do exército, Hitler tornou-se depressa chanceler da Alemanha em Janeiro de 1933, após um período de caos político-económico, muita propaganda, muito carisma, muita logística, muito cognitivismo superior e assume presidência e poder executivo único com a morte de Paul von Hindenburg, em 1934. Em pouco tempo, a Alemanha tornou-se um estado nacionalista racista, sobretudo de ordem anti-semita, onde tudo o que era diferente seria censurado. Mais, num exagero de regra e idolatração, aplicou a total submissão do indivíduo e a autoridade soberana do estado simbolizado na figura do Führer. E nessa gula de poder sob manifesto de uma crença extrema, viu-se no direito de alargar território, expandindo-se militarmente mundo fora.
Sem me alongar mais na sua história - não é esse o pretendido... - conclui-se facilmente o autoritarismo na sua liderança, uma censura da liberdade individual de forma totalitária e exageradamente severa, seguindo princípios hierárquicos e fundamentando-se na desigualdade entre o natural e o social. A Autoridade pode, pois, ser definida como poder legitimo, como o controlo de tarefas de cada membro do grupo por parte de um líder por ele responsável. A personalidade autoritária é resultado do conjunto de traços cognitivo-sociais que nos moldam comportamentos (submissão, agressividade, crença nas autoridades e obediência aos superiores) e, portanto, mais que uma característica de personalidade, o autoritarismo é um conjunto de relações de poder, havendo uma exigência de manobra, desse tal dom que pemite ao líder ascender: factor carismático.
É engraçado como facilmente se joga com o baralho social e se lança áses de idolatração pela cultura do fantástico. Sem fantasmas, une o gosto da vontade, da necessidade do imaginário, do caminho milagroso da perfeição, ao seu mandato e, obsessivamente, por sugestão divina nesse dom surreal que facilmente conquista alvos, denegrindo posições, imagens e ideologias, sugere a auto-supressão de interesses e limites de valores ou ideais, trabalhando excepcionalmente para o fim pretendido, o que se molda por constante avaliação e investimento no desempenho individual e facilmente adquire rebanhos inigualáveis. E, assim, conquistado o indivíduo, facilmente o líder, num efeito de presença, consegue a sua total fidelidade ao ponto deste chegar a abdicar da vida ou do que tem de melhor para o agradar face ao objectivo pretendido, cultivando uma nova identidade, não sua, não do seu id, não do seu fantástico mas antes do próprio bastardo que dita o poder, do que define como canone. Tudo isto depende, claro, de um quadro gradual, assentando a qualidade de acção em seis factores-base: visão do objectivo (normalmente idealizada), boa comunicação (linguagem de esperança), confiança (crença suprema no líder), investimento gradual no grupo (tarefas do mais fácil ao mais difícil, suscitando incentivo/enaltecimento de desempenhos), orientação da acção (encaminhamento) e estímulo intelectual (reencontro pessoal assente sobretudo nas crises em seu torno). É todo este jogo estratégico que lhe define a qualidade e o sucesso garantido.
Facilmente o que se explora decorrente desta situação é o padrão da obediência - reacção a uma imposição da parte de alguém de estatuto ou condição superior. Deste modo, houve como que uma maquinização, como a sentida na Revolução Industrial, em que o povo era a máquina comandada pelo chefe de modo a lucrar tarefas, perdendo os membros consciência, automatizando-se e submetendo-se a qualquer ordem. Isto efectivamente criou o extenso quadro negro alemão (e não só) com imensa morte e imenso homicídio. Arrependimentos surgiram quando a consciência ganhou forma (ou recuperou parte dela) e deste modo cresceram os traumas e os conflitos intrapessoais sendo ainda hoje uma marca cinzenta no pensamento contemporâneo e uma grande dor nos
somas daqueles que puderam viver este período e dele sair para o poder partilhar: o que se viu neste Reich resume-se ao quadro da fidelidade recompensada e do indesejado aniquilado.
Enfim... Considerando todo este resumo do que foi este trabalho e atendendo ao facto de ter inclusive sido explorado oralmente tanto aula como em respectiva apresentação oral, surgiram-me n sequências de ideias que na verdade me aconchegam na escuridão há já bastante tempo. Positiva, negativa, pequena ou grande, a influência dos líderes sobre a vida organizacional é real, a influência do poder é uma crucialidade e a influência carismática é uma chave para ilusões, padrões, vias e culturalismos. Alguns traços e competências conferem às pessoas maior probabilidade de ser líder e de exercer a função eficazmente mas não o garantem e portanto o encontro natural da espécie é precisamente a réplica descontrolada do que o Grande definiu outrora como
pathos aeternus, numa união cultural, negra, omitida, cuspida no solo do incomum e rasgada na palavra do que não existe. Compara-se o factor ao heroísmo quando de um egoísmo se trata, de uma camada subcortical invadida e desnutrida de sais e moléculas que a possam satisfazer. Não é,pois, o tipo de liderança aplicado que define o resultado do grupo mas antes aquele que o aplica, dependendo sobretudo do líder toda a sua formação. Uma liderança autoritária poderá apoiar em casos extremos de comportamentos irregulares e alertantes de modo a melhor conseguir controlá-los. Porém, isolar situações e agrupar tipos de liderança no mesmo grupo é a chave. É importante a interacção dos vários elementos com o líder para que este melhor se possa enquadrar na realidade do grupo por partilha de informação e criação de relação. É importante a estimulação, a abertura e a consciencialização tanto do baixo como do alto, tanto do que diz como do que faz, tanto do que é e do que fica por ser.
Há ainda toda uma imagem de “super-homem” na maioria dos líderes. Em Hitler, representava um componente central da fabricação a partir do seu, grandiosamente trabalhado, apelo carismático mas antes desta conquista, muito terreno já havia sido trabalhado ao longo de toda a sua vida de estudo e emancipação, sobretudo no período que se antecedeu ao seu mandato, por propagandas, trabalhos doutrém e própria situação do país. Noutros, tal assemelha-se e, hoje, após todo esse período que se não julga esquecido por dor mas por passado, é a realidade mas bem escondida de todos nós (por curiosidade, se interessados, claro está, procurem - até mesmo no youtube - o vídeo de uma experiência
real realizada por Milgram em 1964: modelo explicativo da obediência).
Julgando-nos cordeirinhos maquinizados, sequelas da imperfeição, berros da linguística e dos padrões do vandalismo e da fome de cultura, da sede de sobrevivência, da luta económico-afectiva de um xadrez transparente e ilusório, cortam-nos os pulsos com tanto carinho que nos satisfaz a dor nesse nosso próprio veneno.
Como pode um carisma tão mórbido como o dos senhores que nos alimentam há anos ser tornado, ser trovão, admirado e esculpido em bustos e fantasias? Como pode um povo gritar ou meramente rasurar uma resposta errada num simples papel a branco, num voto de prazer, num coro de agonia, num apelo por segurança, numa palavra, salvação!?
Estou farto! Dia após dia, mais farto! Deixado de lado por sistemas básicos, acompanhado por n conhecedores de partes de razão, nessa inteligência que não existe, nessa cultura de cognitivismo moldado à imagem do prazer, nessa boémia desfigurada, rasgada pelo poder, pelo deconhecer, pela tourada de porcos e de gémeos e de padrões sofistas e plácidos! - Não há líder sem cultura, não há partido sem nação, não há nação sem raíz, não há raíz sem trabalho, não há trabalho sem educação...
A grande diferença entre uma ilusão e uma sombra é que a ilusão pretence aos jogos do nosso psíquico, é a nossa própria esfera e garante-nos o prazer porque acreditamos nela como parte de nós. O carisma sabe jogar com isso. O carisma sabe corromper as feridas e, sem dor, extendê-las ainda mais. Ao passo que as sombras... Essas.... Mesmo que transparentes, são os adamastores que ficam, entre psicoses, mentiras, erros e fatalidades, que ainda assim se escondem, entre ilusões e mentiras, dentro do id que não sara, dentro da terra que não mói, que não germina, e permite continuar, em vão, neste teatro de egoístas, cabrões e cobardes, essas bestas verdes que nos afagam o prazer nessa droga, nesse jeito de ser artísta.
Vivemos uma troca de informações diárias que nos matam o interior. Farto, sim, estou eu. Estou eu e o mundo que não vê. Estou eu e aqueles que não falam. Estou eu e aqueles que não o imaginam sequer.
Senhores do poder, desiludam-se também. Sois ignorantes e fruto de um país deseducado e de valores corrompidos. Até Hitler se vos supera, até Salazar vos instalaria no rés do chão da consciência para nunca mais voltar, arquivados como memórias falsas e retratos traumáticos, como labirintos do que já não interessa. Até o totalitarismo da época se marcava mais brando que o de agora. Feria e matava mas ao menos não o escondia. Vós feris e matais, entrelinhas, entre bíblias. Abri os olhos e germinai o inferno do que é o saber...